FLATO - parte 1 -


E ela insistia.

- Não é possível que ninguém esteja percebendo esse ambiente! Meu Deus!


Vocês repararam o quão incrível é uma cara de fedor? A face se contrai como se buscasse um lugar para se resguardar. Ergue-se nariz, adentra-se o queixo, contorcem-se lábios, franze-se a testa... é como se todo o rosto, poro por poro, sentisse o mau cheiro!


As pessoas se entreolhavam, levavam a mão ao nariz, esfregavam-no e a velha continuava...

- Que ser humano deplorável! Estás morto por dentro, ó desgraça humana?

Aquela senhora estava ofegante. Andava para um lado e para o outro em busca de ar... o oxigênio ali tornou-se rarefeito e muitíssimo valorizado. O ar-condicionado não dava conta...

Era um cheiro ríspido, repulsivo e ligeiramente condimentado. Mas de onde surgiu?

- Eu deveria levar ao cárcere esta criatura! A jurisprudência poderia me auxiliar. Paíszinho diminuto... deveria haver um sensor nesses recintos de modo que apontasse o doloso!

- Ô minha senhora... – replicou um velhinho – com a licença da palavra... e que sensor há de ser este? Um chip no...

- Não termine, senhor! Não termine! Eu sou delegada e poderia levá-lo preso!

- Mas veja... eu te ofendi? Não tens cu?

- Cala-te!

- Hunf! Parece que é obstruída... #*&%... (murmurou aquele pobre velho).


De repente aquela senhora, inesperadamente sacou a arma e deu um tiro pra cima, estilhaçando uma lâmpada. O barulho foi seguido de dois ou três assobios anais... altos e singelamente apreensivos.

Um homem rapidamente se justificou:

- Esse foi do susto. E minha mulher diz que meu... m-m-e-meu peido é d-de anjo... não fede.

A tal delegada encarava-o com os olhos ríspidos e notoriamente cheios de ódio – ao invés de saliva, ela deglutia sangue.


...


Nada como um natural, silencioso e volátil peido numa repartição pública. Não é mesmo?

tuuím... Ops!

E segui algemado...


Pausa-me?



Foda, foda, né?!
Dá ou não dá?


Pra que mesmo nós damos tempo? Tempo para que?


Tempo com a mãe, com o sono, com aquele sabonete, com quem amamos, com o modo de vida escolhido no início, com a alimentação, com a tal cueca, dar um tempo com o incômodo, com a alfinetada, com o furúnculo chamado angústia que parece que a qualquer momento virá a furo expelindo toda nossa mente!

Dê, pois, um tempo para o tempo, e... por tabela, para você! Verás que... a vida muda... e a sensação que fica é a de... evolução.

Será? Será mesmo?
É, porra!

Porque ‘pedir um tempo’ é querer se afastar... é ficar um pouco longe... é experimentar abstinência...

Taí a palavra-chave... abstinência...

Essa proeza é que vai nos polir, nos testar... Abstenha-se, prive-se...
É respirar... um... novo ar!

Ou seria o mesmo ar, do mesmo quartinho sombrio, bolorento e fechado?
Pessimismo de merda esse seu.

Conclusão pragmática: “Dar Tempo” é importante para viver, para bem viver. É quando saímos um pouquinho do dia-a-dia e percebemos de uma outra forma a imagem d’outro lado do espelho.

Despreze o furúnculo!

* * *

Saiu um puta texto de auto-ajuda! Ou seria um texto reflexivo?

Dane-se! É um texto!






Saudações!


Réplica de um tropeção.


Outro dia tropecei feiamente numa pergunta...

O que é cotidiano?

Resposta de ponta.

Eu sempre digo que é algo que nós estamos sempre inseridos e fazendo todos os dias e tal e tal e tal... Mas ô definiçãozinha simplória, né?! Vejamos o que diz o Houaiss:

conjunto de ações, geralmente pequenas, realizadas por alguém todos os d...”



PÁRA!



Taí uma coisa que adoro, gosto mesmo. Dicionário. Mas desta vez não. O que quero deixar claro é que cotidiano é algo que está na nossa cara, esfregado na extremidade da cavidade nasal, logo ali, bem perceptível aos olhos. Mas devíamos ir além. Nada é tão simples. Cotidiano é reflexão para que não tenhamos algo tal abjeto, vil e sem razão na nossa vida. É... “sempre mais do mesmo”!

Então! É amar e ter uma recíproca gélida (às vezes), é buscar e se foder, é alcançar, é o choro desmedido na solidão particular do travesseiro, é o riso desembestado que seu irmão se esforça a entender, é cachorro de rua, pão com manteiga, perfídia deslavada, novela ruim...

Cotidianar é viver! A vida é feita de ocasiões! Diz Heráclito que é o "jogo dos contrários" (o riso existe frente ao choro e à seriedade). Simples, mas exato!

E falar de cotidiano, é falar de tudo! De tudo um pouco! Pois então, essa é a intenção do Gergelim Africano. Tratar dos mais diversos assuntos e dissecar as situações.
Textos... fotografias... vídeos... devaneios, pois, pragmáticos.

Senta, liga o ar (isso inclui ventilador, janela) e... relaxa! Mas... deixa uns grãos aí... afinal... mesmo gélida, a recíproca é importante! Mas que seja entre nós, ao menos, morna!!


Saudações!